Curitiba

Ruas longas de traçado retilíneo, cruzando a cidade de fora a fora, facilitam a orientação: moro aqui há poucos meses, mas nunca me perco em Curitiba.
Uma em cada três pessoas é loura e tem olhos claros, mas a cidade está enegrecendo.

Os parques e as praças estão mal cuidados: decepção enorme. Mas eles estão cheios de gente, e o meu filho Gabriel sai correndo como um doido, jogando a bola para o alto, se divertindo muito.

As pessoas são gentis, quase tímidas; elas nos deixam muito à vontade. Adaptação imediata, sem estranhamento algum. A cidade não nos invade, as pessoas nos deixam em paz. É um bom lugar para ser maluco: disseram-me que aqui há um grupo positivista que financia a preservação do túmulo de Auguste Comte em Paris – pura bizarrice…

Há muito silêncio, boas livrarias, restaurantes poloneses, boas mercearias japonesas, fartura de comida italiana: nunca fui ao Madalosso, mas dizem que ele já foi o maior restaurante do mundo, milhares comendo lasanha ao mesmo tempo.

O Grande Frio se abate sobre nós todos os anos: dizem que em 2013 nevou em Curitiba, uma neve que durou pouco, mas que era neve mesmo assim, aquela coisa gelada caindo do céu e virando água no asfalto… Mas a arquitetura é despreparada, e passamos um frio danado dentro de casa.

Agora é verão – estamos em dezembro –, e os dias são mais ou menos quentes: até mosquitos apareceram ultimamente, coisa rara. Mas o céu continua cinza com muita frequência, motivando um comportamento meio inglês, meio sueco, com as pessoas comemorando entusiasticamente um final de semana ensolarado – mas logo começa a chover.

A Daniela, minha mulher, diz que na escola onde ela trabalha os colegas rezaram antes da última reunião: um colégio católico onde as pessoas são de fato católicas, ao que parece. Na escolinha do Gabriel, a festa de final de ano teve uma execução do hino nacional que nenhum pequenino sabia cantar – muitos sequer sabem falar… E não serviram cerveja: nenhum papai ficou bêbado, reclamando do futebol e da política, aquelas coisas de sempre: a festa foi menos infantil por causa disso?

Eu gosto das padarias e dos cafés. Gosto que haja tantas pessoas de sobrenome Hoffman, Jancovski ou Okimoto. Os motoristas de taxi, sem exceção, votam na direita. A vida corre num ritmo bom, nem lento nem acelerado: bom ambiente de trabalho, bons cinemas, boa música, a placidez desta cidade a cada dia mais violenta. Pichações no muro…